black and white bed linen

Superando a Dor

Relatos de um pai enfrentando manipulações e buscando ajudar outros em situações semelhantes.

O DIÁLOGO


Difícil escrever para si mesmo, por que não tentamos escrever para os outros?

Para os filhos:


René - Creio que superamos nossas maiores dificuldades, tenho certeza que a idade e a maturidade lhe trarão mais benefícios no nosso relacionamento. Um dia saberás toda a verdade, e ela te frustrará, pois saberás que errou em suas decisões. Mas nada ocorre sem um propósito, espero que tenha sido beneficiado mesmo com esse erro.


Leonardo


Lamento não ter acompanhado mais sua adolescência, mas tenho certeza que sabes que não fui eu quem impediu isso de acontecer. Agora terás de viver com essa lacuna na sua vida, de espaços que seriam preenchidos, bem ou mal, com ótimas intenções. Cresça e não tenha medo de nada, acredite em si mesmo e vencerás.


Arthur:


Que pena nossa distância, mas compreendo, compreendo que és vítima de uma prisão, que lhe corrói a alma, mas que ao tentar fugir lhe dilacera o espírito. Seja feliz mesmo assim, se puderes.


Seu pai.

Experiências

A person and a child walk hand in hand on a pier leading into a body of water. The sky is overcast, and the water is a muted green-gray color. The adult is wearing a white jacket with a hood and a black backpack, while the child is in a bright yellow jacket and a matching beanie.
A person and a child walk hand in hand on a pier leading into a body of water. The sky is overcast, and the water is a muted green-gray color. The adult is wearing a white jacket with a hood and a black backpack, while the child is in a bright yellow jacket and a matching beanie.
A black and white image depicts an adult woman and a small child on a set of wooden steps. The woman, in a patterned dress, appears unconscious or in a deep sleep with her hair draped over her face. The child, also in a dress, is covered in dirt and is visibly upset, sitting with an open mouth as if crying. The setting is outdoors, near a wooden structure.
A black and white image depicts an adult woman and a small child on a set of wooden steps. The woman, in a patterned dress, appears unconscious or in a deep sleep with her hair draped over her face. The child, also in a dress, is covered in dirt and is visibly upset, sitting with an open mouth as if crying. The setting is outdoors, near a wooden structure.
A parent and child sit together on a blanket in a park filled with fallen yellow leaves. The child, dressed in a pink outfit, is being held and looks cheerful as they point towards the sky. Surrounding them are tall, green trees and more autumn leaves.
A parent and child sit together on a blanket in a park filled with fallen yellow leaves. The child, dressed in a pink outfit, is being held and looks cheerful as they point towards the sky. Surrounding them are tall, green trees and more autumn leaves.
A mother holds her child close, enveloped in warm, golden sunlight filtering through surrounding trees. The child is dressed in a bright yellow jacket, looking curiously into the distance, while the mother gazes lovingly at the child. The background features soft focus silhouettes of trees under a sunset sky.
A mother holds her child close, enveloped in warm, golden sunlight filtering through surrounding trees. The child is dressed in a bright yellow jacket, looking curiously into the distance, while the mother gazes lovingly at the child. The background features soft focus silhouettes of trees under a sunset sky.
A young child with long dark hair is being held protectively by an adult. The child is wearing a striped shirt and has a concerned expression. The adult is wearing a purple and yellow striped garment with floral patterns, and their arm is wrapped around the child. In the background, there are other blurred figures and a variety of colors.
A young child with long dark hair is being held protectively by an adult. The child is wearing a striped shirt and has a concerned expression. The adult is wearing a purple and yellow striped garment with floral patterns, and their arm is wrapped around the child. In the background, there are other blurred figures and a variety of colors.
Two people, possibly a parent and child, are leaning over a railing by a calm lake, surrounded by trees with autumn foliage. In the background, there are modern buildings that dot the skyline under a clear blue sky.
Two people, possibly a parent and child, are leaning over a railing by a calm lake, surrounded by trees with autumn foliage. In the background, there are modern buildings that dot the skyline under a clear blue sky.

Relatos de superação e reflexões sobre relacionamentos tóxicos.

Carta ao meu filho René

Espero que esteja bem.

Não é porque tivemos problemas que desejaria o mal a você.

Penso em você quase todos os dias de minha vida, e sempre que penso me vem

um enorme sentimento de impotência, de situação mal resolvida. É uma pena,

não pude, nem sei como resolver isso.

Sei que você teve suas razões, e acredito nelas, para me desrespeitar como pai,

mas verdade mais que um desrespeito, você deixou claro que eu não fui o pai que

você queria.

Resolvi escrever essa carta, nem sei por que, foi uma das minhas intuições. Em

época de pandemia, morrendo pessoa que estão bem de saúde a cada dia, sei lá,

uma destas mortes pode nos fastar em definitivo, e dessa maneira posso pelo

menos registrar o que se passou.

Quando sua mãe me avisou que estava grávida, estava ela com 15 para dezesseis

anos, e eu 18 para dezenove. Foi uma burrada, pelo menos da minha parte. Sua

mãe era liberal nessa questão, já havia acampado sozinha com os primos, foi

criada na maneira germânica. Eu era muito burro, e não tinha esclarecimento

sobre questões como essa a não ser do Borges, ou do Zé, então imagine o

conceito que eu criara.

Na verdade, sua mãe era uma pessoa a ser descoberta, não que eu não gostasse

dela ou da família, mas não havia como jogar todos os meus sonhos para cima e

me casar, então fui relutante para isso, ao contrário dela que estava superfeliz

com a situação. Não a conhecia direito, e tinha meu pé atras. Levei sorte,

entretanto, a família era de gente boa.

Mesmo assim passamos vinte anos de sofrimento, mas isso é outra história. Sobre

você; achava eu que de tudo o que passara havia um lado bom, um filho. Não fui

o pai que esperava, tenho claro isso, pois não aguentava ficar em casa com a sua

mãe, e me escondia atrás de serviços, não me lembro de ter podido apreciar a

vida e meus filhos, sempre havia uma conta para pagar, um saldo negativo em

algum banco etc.

Não me admira quando ainda tentando resolver o casamento já afundado,

mesmo fazendo empréstimo para quitar dívidas, descobri que sua mãe tinha uma

conta poupança escondida.

O que mais havia ela escondido?

Me lembro quando casamos fui honesto e burro novamente com ela. Ser honesto

precisa uma grande bagagem, não dá para ser burro e honesto ao mesmo tempo

– Disse a ela - Não te amo! Mas como não te conheço bem, algo pode surgir em

três anos, então vamos fazer uma experiencia, de três anos, se não der certo

vamos cada um para seu lado, ok?

Você, pensava eu, que um dia poderia ter a construtora que eu sempre quis ter,

aquela que sua mãe me fez fechar, por que segundo ela fazia com que outras

mulheres dessem em cima de mim. Racionalizando o fato de que ela em si nunca

tinha me conquistado enquanto marido. Também para que? Engravidara para que

me casasse...e deu certo, de novo para eu não me separar, e deu certo...

Tudo dava certo para ela, sem esforço. Quando eu tinha 63 horas de compromisso

semanal, em uma agenda que fiz no começo do casamento, ela saia todas as

tardes para chá com a amigas, buscada pela sua Oma.

Minha mãe nunca comentou isso comigo, mas sabia e chorava sozinha. Fui

descobrir mais tarde.

Enquanto eu dei um pau para me formar mesmo casado e com tantas atividades,

ela reprovava matéria após matéria na faculdade, tendo que se formar com 9

anos, por pouco não foi jubilada, e não era por emprego, pois foi trabalhar apenas

em 1990, 9 anos depois de casados.

Enfim. Um dos motivos que me fez casar foi o fato de você ser um futuro amigo,

sócio, companheiro, não foi.... até tentei, mas não deu certo!

A separação foi doida, claro não sou feito de aço, mas o pior foi a maneira que os

filhos me trataram. Na verdade, a bem da justiça, sempre pus a culpa nela, de ter

jogado os filhos contra mim, mas foi novamente burrice, não foi?

Os filhos tinham a sua própria cabeça, estou errado? A não ser o Arthur que era

uma criança, todos poderiam pensar por si mesmos.

Relutantemente então decidi me afastar de todos. Para que sofrer? Não gostam

de mim como eu sou, só gera sofrimento para eles e para mim.

Mas você foi o mais doído. Você foi a causa do casamento, de 20 anos de cadeia

com uma mulher que eu não amava, uma tirana que só fazia o que queria, que me

deu o golpe da barriga e viveu as minhas custas por 20 anos, e ainda saiu bem na

fotografia. Sim, surpreso? Era como eu pensava.

Enfim, não vejo conserto na nossa relação, está bem como está, você na sua e eu

na minha. Todos fazem as suas decisões. Eu errei monstruosamente nas minhas,

investi 20 anos de minha vida num barco furado, e o provável lucro que eu teria

foi por água abaixo. Resultado de minhas decisões. Primeiro se casar com uma

sem cabeça que era sua mãe, depois ficar com ela, depois minha família contra a

separação, não ter para onde ir.

Só quero dizer que ainda bem que você tem os genes dela, me dá um alívio. Não

vai ser trouxa como eu.